PAC

A PAC é uma comunidade que faz parte da Diocese do Recife - GAFCON/FCA . Entendemos que o homem deve ser respeitado pelo fato de ter sido criado à Imagem e Semelhança de Deus. Entretanto o ser humano não guardou sua condição de comunhão com o Pai Celeste devido ao pecado. Por isso, a Palavra de Deus, quando anunciada sem legalismos e sem antinomismos, deve trazer conversão, arrependimento e salvação em Cristo Jesus.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012


Carnaval: o Que de Fato Está por Detrás Dessa Festa?
Rev. Miguel Uchoa (¬)

É comum nessa época do ano termos acesso a textos que procuram fazer uma verdadeira “exegese” dos assuntos carnavalescos ou uma análise etimológica da palavra Carnaval. Dispenso ambas as iniciativas por entender ser isso desnecessário. Não precisamos ir muito longe para perceber que o carnaval é, de fato, a festa da carne. Por outro lado, sabemos que as origens da festa estão ligadas ao momento que precede a Quaresma, que, na fé cristã, historicamente é um período de recolhimento e reflexão em preparação para a Páscoa. Na realidade, o carnaval é um feriado religioso e se restringe à 3ª.feira, dia em que se celebrava tudo e de todas as formas possíveis, para que, no dia seguinte, recebessem as cinzas do arrependimento da 4ª.feira, onde há ou haviam os tradicionais Culto de Cinzas, agora  olhando para os 40 dias de abstinências e retiro que já comentamos ser a Quaresma.

Na prática, pouco ou nada disso acontece mais, nem o carnaval é um feriado religioso, nem a Quaresma tem o mesmo significado que já teve em termos de reflexão e abstinências. Algumas tradições cristãs realizam o culto e as missas de cinzas, mas nem de perto podemos dizer que essa prática faz parte da cristandade hoje como já fez um dia. Lembro de uma vez que o Bispo Primaz da Igreja Católica Romana, no Brasil, fez duras críticas contra as celebrações carnavalescas, mas porque estavam entrando na 4ª.feira e isso era inadmissível, dizia ele, pois já faz parte da Quaresma. Achei um pouco estranha a posição daquela autoridade eclesiástica porque se limitava a defender a 4ª.feira e, sequer, fazia uma menção aos dias e até semanas que as pessoas vinham vivendo em bebedeiras e extravagância de todo tipo.

O carnaval é uma festa ambígua, em minha opinião. Não posso deixar de ver o lado cultural de tantas manifestações, do espírito do artista brasileiro que vem à tona de forma tão nítida nesse período. É indiscutível que a criatividade do povo não se esgota e a cada ano surgem novas criações, nomes de blocos engraçadíssimos, pessoas que investem em algumas fantasias que nos tiram risadas só em ver e imaginar as cenas. Muitos vão se lembrar da história daquele folião que vinha no meio da multidão puxando uma coleira e gritando “vem Bob, vem Bob!”. As pessoas abriam caminho com receio de um cachorro para depois perceberem que ele apenas puxava um “bob” de cabelo. Isso sem falar do bloco do “eu sozinho” e tantas outras iniciativas hilárias.

No entanto, é inegável que o carnaval não se restringe a isso e, como tantas outras coisas, foi perdendo a ênfase folclórica e dando cada vez mais lugar a uma verdadeira busca por algo mais, um extravasamento do ser que persegue uma satisfação qualquer e, que, em nome disso, esquece qualquer limite e se entrega a tudo e a todos. Como em tudo, não podemos generalizar, mas não há como negar que essa é a ênfase da grande maioria, o que vem tornando a festa cada vez menos segura e cada vez mais um terreno fértil para o uso exagerado de bebidas, o consumo de drogas e a prática de uma sexualidade desenfreada. Não é a toa que o governo não investe na distribuição de preservativos no Natal, na Semana Santa e em outros períodos festivos, como faz nesse período do ano.

É necessário ainda observar tudo isso sob a lente da espiritualidade cristã. Jesus Cristo disse que o mundo jaz no maligno, e não é preciso chegar o carnaval para concluirmos isso. Mas, fazendo uma análise da festa sob esta ótica, não podemos deixar de observar alguns aspectos e afirmar que o bom senso sugere que os cristãos confessos se mantenham afastados desta celebração. Não há como negar que as festividades têm um cunho espiritual por traz de tudo. Senão vejamos: O carnaval de Recife e Olinda é aberto com a noite dos tambores silenciosos (CAMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1954C (http://basilio.fundaj.gov.brhttp://ne10.uol.com.br/canal/carnaval)). Ora, todos sabem que esse evento é uma invocação às divindades africanas feitas pelos maracatus que, sabemos, além de sua beleza plástica e ritmo contagiante tem um componente espiritual fortíssimo. Na realidade, é como uma entrega da festa a estas divindades e, na concepção cristã, isso é abominação ao Senhor. Nada mais contagiante e belo do que os desfiles das escolas de samba, especialmente do Rio de Janeiro. Aqueles batuques, aquelas baterias produzem um som alucinante e os dançarinos e dançarinas são de uma leveza impressionante. Mas seria ingenuidade ou cegueira eletiva tentar omitir de nossas mentes que da mesma forma por detrás de tudo aquilo está um componente espiritual muito intenso. Muitas das letras dos sambas enredos, além de passagens históricas, fazem alusão e louvação a entidades do candomblé e de outras tendências religiosas espiritualistas. Não é novidade para ninguém que os líderes destes grupos são, em sua maioria esmagadora, devotos de “santos guerreiros”, filhos de “santo” e com suas histórias totalmente ligadas a estas práticas, trazendo, assim para suas escolas, a louvação a estas entidades. O que compromete a imparcialidade espiritual do movimento.

Com estes exemplos, e com a prática de um período de exageros, e, como citei, extravasamentos do ser, esta festa se torna, a cada dia e de fato, a festa da carne e os cristãos, por não se sentirem motivados ao extravasamento da carne e, sim, à busca de um controle de seus impulsos carnais e a busca de uma vida limpa e pura diante de Deus, devem se afastar desse momento e devem ensinar aos seus filhos que, da mesma forma, se afastem de tudo isso, não simplesmente porque é um pecado, mas porque toda a raiz está comprometida, as intenções estão maquiadas, e a espiritualidade pagã permeia toda a festa. Tenho dito que por detrás da mais simples fantasia de uma festividade infantil escolar nesse período, está uma intenção espiritual que reveste toda a festa. Não há como separar. Se incentivo meu filhinho a se fantasiar hoje e participar das festividades, não poderei me queixar que, quando jovem ou adulto, ele deseje seguir adiante e se envolva na totalidade da festa, se expondo a estes riscos e à contaminação espiritual. O que a sabedoria de provérbios diz é que devemos ensinar a criança no caminho que ela deve andar e quando adulta não se desviará desse caminho!!

Por isso, desde que conheci a Cristo, verdadeiramente, abri meus olhos e consegui enxergar o que de fato está por detrás dessa festa, e, assim, me afastei dela, mesmo admirando seu colorido e seu componente folclórico e cultural. Um dos mais novos blocos do carnaval de Recife se chama “Culto a Baco”. Criado em 2007, o grito de “fé” desse bloco irreverente é: “Eu não vou ao culto orar, eu vou ao culto a Baco!”. Ora, Baco é o mitológico deus do vinho e não precisa ir mais adiante para perceber que isso vai além de uma simples irreverência. Talvez isso seja difícil de entender para alguém que não conhece a Cristo e confessa essa fé, mas você que sabe disso, pode facilmente perceber o que de fato está por detrás dessa festa.



¬ Rev. Miguel Ângelo de A. Uchoa Cavalcanti é Presbítero da Diocese do Recife; Reitor da Paróquia Anglicana Espírito Santo, em Jaboatão dos Guararapes-PE. Artigo disponibilizado em seu blog (Blog de Miguel Uchoa), no dia 12/02/2012.

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