Penso que ao aproximar-se mais um
31 de outubro seria pertinente falar sobre o grande Reformador Martinho Lutero.
Alguns o tratam como único, todavia, esta maneira de ler a história da Reforma
da Igreja revela um certo estrabismo da
interpretação dos fatos e um comprometimento confessional que até certo ponto
se entende. A Reforma também esteve no coração de homens que antecederam Lutero
e, também, homens que o precederam. Não se pode esquecer
de Savonarola, Francisco de Assis, Wycllife ou Huss. O que seria os
XXXIX Artigos de Fé se não fosse a reflexão teológica do Gigante de Genebra
Calvino? O que seria da Igreja, nos dias
de hoje, se não fosse os reformadores que continuam lutando pela conservação
das Verdades Eternas em nosso meio apesar das relativizações que caracterizam
nosso mundo pós-moderno?
Lutero nunca foi contra a Igreja Católica e nunca teve a
intenção de criar outra Igreja. Queria ,sim, reformar a única Igreja Santa,
Católica e Apostólica e não destruí-la.
Entretanto, a situação ficou insustentável entre o monge agostiniano e a
Igreja o que o levou em 31 de outubro de 1517 a afixar na porta da Capela de Wintenberg as 95 teses que eram possuidoras de uma essência
questionadora de todo o ensinamento dado pela Igreja da época que não possuísse
sustentação Escriturística. Com isto
“nascia” a Reforma da Igreja no ocidente tornando mais efetivo um anseio que já
existia no coração de muitos àquela época.
A jornada do Reformador
à capela foi marcada por uma série de conflitos espirituais
(e quem não os tem???) pois queria ,a todo o custo, agradar a Deus . Todavia não se achava digno
para tal. Entendia, à época, que todo o ato de extremada penitência (muitas
vezes praticando autoflagelo) o traria à plena paz de espírito reconciliando-o com Deus.
Em 1507 foi ordenado sacerdote da Igreja Romana. Nove anos
depois tornou-se Doutor em Bíblia e
professor em Wintetenberg tomando o solene voto: “ Juro defender a verdade do
Evangelho com todas as minhas forças” guardando este voto até o fim de sua
vida. Foi através do estudo da Bíblia (em uma época em que a maioria dos
sacerdotes não estudavam e nem tinham acesso às Sagradas Letras) que
Lutero “descobriu” verdades “esquecidas”
pela Igreja ao longo dos anos. Convidado a dar aula Martinho começou uma série
de estudos exegéticos do Antigo Testamento e, depois, do Novo Testamento. Sua
maior preocupação era fazer a vontade de Deus e nutrir seu rebanho. Um de seus
principais obstáculos foi o de compreender o significado da expressão bíblica –
“ JUSTIÇA DE DEUS”. Sua bíblia em latim continha as palavras “ JUSTITIA DEI”. O
termo “JUSTITIA” era comumentemente
usado para justiça retribuitiva ou punição tal como os eruditos ensinavam. Em
outras palavras, compreendendo desta maneira, ele (Lutero) terminou vendo Deus
como um Juíz severo e irado e diante deste conceito o padre de Wintenberg não
podia entender como Davi poderia ter orado: “...livra-me por Tua Justiça”
Salmos 31:1. A palavra “justiça” ecoava no coração de Matinho como ira de Deus
e punição eterna. Assim ele lutava contra a ira “divina” e ela queimava como
fogo em sua consciência.
Finalmente ele voltou o seu estudo ao novo Testamento em
busca de conforto e foi capturado pela mensagem de Paulo: “ Pois não me
envergonho do evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele
que crê...” . Continuou lendo: “ Visto
que a justiça de Deus se revela no Evangelho...” Rm. 1:17. Lutero não podia
compreender isto. Será que o apóstolo Paulo estava dizendo que o Evangelho é a revelação da Justiça de Deus??? Como
poderia Paulo chamar o Evangelho de “justiça”? Era esta uma outra manifestação
da Lei? Em caso afirmativo, então o Evangelho condenava o pecador!!! A Bíblia
permanecia aberta enquanto ele ia aprendendo. Todavia a grande questão de sua
mente era: “ Como Paulo poderia chamar o Evangelho de Justiça de Deus?”
Lutero releu o texto em seu contexto e encontrou: “Mas
agora, sem Lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela Lei e pelos profetas” Rm. 3:21. Sua visão
clareou!! Pela graça de Deus ele compreendeu o que Paulo queria dizer: - A
JUSTIÇA NÃO ERA ALGO QUE DEUS REQUERIA DOS HOMENS COMO OFERTA A ELE (DEUS); MAS
ALGO, OU MELHOR, ALGUÉM QUE DEUS OFERTAVA NA CRUZ AOS SERES HUMANOS . Este Alguém
era, é e sempre será a Pessoa do Senhor
Jesus Cristo. Mediante Seu sacrifício expiatório ; Deus oferece a
Justiça Pessoal do Filho do Homem como Seu precioso dom aos Seus filhos!! Essa
é a salvação que vem do EVANGELHO!!!!
A salvação não está
em um Cristo em nós!!! A salvação está em Cristo POR NÓS!!! Isto significa que o Evangelho não requer de
nós obras ou perfeição; mas oferece-nos o gracioso dom e a Perfeita Justiça de
Cristo Jesus! “ Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” Efésios 2: 8,9.
Assim somos justificados por Deus mediante uma justiça EXTERNA e FORENSE que
vem da cruz que nos é imputada. A nossa justificação ocorreu a pouco mais de
dois mil anos quando penduraram no madeiro o Filho de Deus. Nada que façamos de
“bom” pode justificar-nos diante de Deus.
Não existe processo interior de ordem humana
que consiga mudar a essência humana(que é pecadora) ou que religue o
homem a Deus. Se caso tentarmos isto estaremos decaindo da graça e reconhecendo
que ou o sacrifício na cruz não foi válido ou foi não suficiente requerendo de
nós algo MAIS para efetivar a
justificação. Todavia sabemos que a morte de Cristo foi total e cabal para nos
resgatar da maldição da Lei. A morte do Senhor Jesus foi substitutiva , ou
seja, o que era reservado para mim e para você (a morte) recaiu sobre ELE(Jesus)
e agora ELE nos dá a vida plena e comunhão com o PAI. E aí, então, esta
salvação que nos é dada de graça (a redundância é proposital) não nos moldes da
graça infusa ,conforme o Concílio de Trento , nos constrange a vivermos em novidade de
vida havendo uma transformação interior que se manifesta na obediência à Palavra que vem de Deus.
Diante desta experiência do reformador de Wintenberg fico a
pensar que na atualidade precisamos vencer a tentação de acharmos que podemos
dar uma “mãozinha” para Deus no ato da salvação decaindo em um legalismo nocivo
em nossos arraiais. Que Deus ilumine a nossa mente e que saibamos que ao falarmos de
Cristo, unicamente, a Mensagem da Cruz possa ser o foco de nossa pregação. Somente Deus é o Autor e Consumador de nossa
fé; por isso só podemos perguntar por ELE porque ELE é o responsável desta
pergunta em nós!
SOLI DEO GLORIA
Rev. Luis Fernando +
PAC / DR - RS
ótimo artigo, antes de tudo salvação é Cristo.
ResponderExcluirSaber que Cristo já fez tudo dá uma tranquilidade...
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